Sintracomos apura contradições no acidente fatal em construção

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3 de maio de 2013

O trabalhador que morreu em acidente de trabalho em Santos, na terça-feira (30), ao cair do 25º andar, não era azulejista, como divulgou a empresa responsável pela obra.

Francisco Manoel da Silva, sepultado na quarta-feira (1º), era ‘cachimbo’, jargão pelo qual são conhecidos os experientes operários que se tornam ajudante dos mestres de obra.

Outra contradição: ele não caiu diretamente do 25º andar para o térreo, como alega a Miramar Empreendimentos Imobiliários. Seu corpo teria atingido o elevador de serviço, no décimo ou 11º andar.

Mais: não foi descuido da vítima, como sugere a firma, de propriedade do famoso empresário da construção em Santos, Armênio Mendes. Foi falta de segurança.

Essas e outras contradições sobre o acidente foram apuradas pelo Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial (Sintracomos).

Atuação do MTE

Seu presidente, Macaé Marcos Braz de Oliveira, já na terça-feira (30) comunicou o fato à gerência Regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que esteve na obra, na manhã desta quinta (2).

Com base em averiguações do diretor de segurança do trabalho do sindicato, Ornilo Dias de Souza, Macaé conclui que o acidente “foi causado por pura falta de segurança”.

“Por mais que a empresa tente esconder a verdade, o fato é que a obra não oferece as condições de segurança previstas nas normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho”, diz o presidente.

Elevador impróprio

Ornilo soube, por exemplo, que o elevador onde Francisco caiu “não é mais permitido. É daqueles antigos e inseguros, de prancha, utilizado, no caso, para transporte de material”.

O sindicalista descobriu que o trabalhador, como ajudante não remunerado do mestre de obras, percorria o prédio inteiro e não estava lotado apenas no segundo andar, como informa a construtora.

Iluminação precária

“No momento, ele estava no 25º andar. Por simples falta de iluminação, em vez de se dirigir ao vão da escada, ele foi para o vão do elevador. E caiu”, revela Ornilo.

Caiu, segundo o sindicalista, porque a grade de proteção do elevador, que faria a vez de porta, não estava no lugar. A escuridão, para ele, foi determinante: “O ponto de elevador deve ser iluminado”.

Térreo ou 11º andar?

Ornilo está intrigado sobre o porquê da empresa dizer, ao diretor de patrimônio do sindicato, João Brasílio, na manhã desta quinta-feira (2), que Francisco caiu diretamente no térreo, sobre o elevador.

O representante da obra chegou a dizer ao sindicalista João que o corpo do operário, de 80 quilos, chegou ao térreo com impacto de 800 quilos, retorcendo as ferragens do elevador.

Ornilo soube, por outro lado, que, segundo o legisla do IML (Instituto Médico Legal), o corpo teria atingido o elevador, em pé, no décimo ou 11º andar.

Miramar não tem segurança

Ornilo diz que a segurança nas obras da Miramar “é péssima. O técnico de segurança nunca está no local de trabalho. Se está, fica apenas pouco tempo. As condições são perigosíssimas”.

Para ele, “a empresa tentará responsabilizar o acidentado pelo acidente, como sempre faz”. Ele recorda que, recentemente, morreu um operário, no mesmo local, nas mesmas circunstâncias.

“Espalharam um boato que o companheiro tomava remédio controlado e que teria se descuidado”, lembra o diretor de segurança. “Na verdade, caiu por falta de iluminação”.

Ornilo passou a manhã inteira de quarta-feira, Dia do Trabalhador, no velório de Francisco, no Cemitério da Saudade da Vila Júlia, no bairro Enseada.Foto:Vespasiano Rocha